CAPÍTULO 2- ALIANÇAS PROFANAS
NELSON TOMOU OUTRO GOLE de café e continuou observando a
jovem atraente. Ela estava bem vestida, com um conjunto escuro, e tinha um ar
otimista. Seu aperto de mão demonstrava ser ela uma pessoa confiante, que
olhava diretamente para as pessoas enquanto as envolvia numa conversa
agradável. Era uma jovem vivaz e entusiasta, dona de um carisma penetrante.
Tinha a habilidade de atrair as pessoas. Era divertida e parecia uma estudante
devotada da Bíblia.
O número de membros na igreja de Nelson estava diminuindo, e
pessoas que ele estava preparando para ocuparem cargos de liderança tinham
saído. Para preencher o lugar deles, tinha de encontrar novos líderes. Seu
desespero aumentava a cada mês, com a diminuição dos dízimos e ofertas. Quando
conversava com a jovem expressava suas opiniões sobre como aumentar a
assistência na igreja. Dona de um aguçado tino empresarial, ela criou um
esquema para colocar a igreja numa posição de domínio. Com o tempo, ela foi se
tornando cada vez mais influente na igreja e passou a liderar um grupo de
estudo bíblico de mulheres.
Ao mesmo tempo, Nelson sentia-se intrigado com as convicções
daquela jovem. Ela parecia ter uma profunda experiência com o Espírito. No
entanto, parecia que um "espírito das trevas" lhe dizia para fazer
coisas estranhas, algumas das quais já tinham resultado em práticas imorais. A
despeito disso, Nelson e sua esposa gostavam da companhia da jovem.
Reconhecendo seu potencial, os dois se encontravam com ela com freqüência e até
tentavam ser seus mentores.
Enquanto eles depositavam grande esperança naquela mulher,
as jovens da igreja começaram a se aproximar dela cada vez mais. Enquanto a
influência dela crescia, a influência de Nelson parecia diminuir. Como um pneu
com vazamento, lentamente a igreja estava esvaziando. Então, a esposa de Nelson
começou a sofrer de várias enfermidades, e sua mente se encheu de fantasias
sexuais. Para complicar mais as coisas, o ambiente amigável entre os líderes se
tornou um ambiente de divisão, e os grupos pequenos, que antes eram vibrantes,
começaram a morrer.
Um dia, Nelson me telefonou e pediu ajuda. Quando comecei a
orar e buscar a Deus, tive um sonho que me permitiu enxergar através da cortina
de fumaça do inimigo. Compartilhei com Nelson o que Deus tinha me mostrado, e
ele confirmou. Mesmo assim, ele e a esposa pareciam divididos. Esmagados pela
indecisão e pela confusão, continuaram dando à jovem mais responsabilidade,
liderança e autoridade dentro da igreja. Eles admitiram que ocasionalmente ela
recebia conselhos de um "espírito guia". Mesmo assim, eles a amavam e
queriam ajudá-la. O que deviam fazer?
UMA ALIANÇA PROFANA
O que acabei de
descrever chama-se aliança profana - um relacionamento que permita que você
alcance seus objetivos, apesar de estar consciente de que a pessoa
deliberadamente continua a pecar. Além do mais, na Bíblia fica muito claro que
Deus não aprova que tais pessoas ocupem posições de liderança na igreja. Embora
Nelson e sua esposa justificassem a decisão de não afastar aquela jovem da
liderança "pelo bem da igreja e do Reino", o Reino ficava
comprometido com aquele arranjo profano, e, no final, a igreja deles iria
sofrer.
LEALDADES DIVIDIDAS
Uma situação similar ocorreu com Onri, o sexto rei de
Israel. Queria assegurar e ampliar seu reino, ele forjou uma aliança profana
por meio do casamento de seu filho Acabe com uma jovem estrangeira, chamada
Jezabel. Essa aliança criou um vínculo político entre Israel e Tiro. O
casamento destinava-se a selar um tratado de paz entre as duas potências; no
entanto, tal aliança provou ser uma concessão que custou muito caro.
Cerimonialmente, foi exigido que Israel seguisse os protocolos religiosos e
políticos da nova esposa de Acabe. Isso significou o naufrágio de toda a nação
de Israel na idolatria. Portanto, por meio do seu plano de ampliar seu reino,
Onri, na verdade, colocou Israel num caminho perigoso. Sua necessidade de
construir uma nação gloriosa cegou-o para as conseqüências da quebra da lei.
Ao concordar em aceitar uma rainha estrangeira, Acabe
conscientemente violou os mandamentos de Deus. Ao que parece, ele justificou a
ação em sua própria mente, mas o Senhor o condenou como tendo se vendido para
fazer o que era mau (1 Rs 21.25). Além da participação zelosa nos cultos
depravados de Baal, uma aliança política oficialmente endossaria as crenças
religiosas, idolatras e imorais, de Jezabel, forçandoas sobre todos os
israelitas. A História mostra que foi exatamente o que aconteceu.
Jezabel levou suas práticas religiosas abomináveis para
Israel. Ela ordenou que ídolos de pedra fossem colocados nos lugares altos e
também erigiu um altar no Templo santo de Deus. Se não tivesse feito mais nada,
somente esse ato já teria provocado a indignação e a ira de todos os profetas
de Israel. Assim, Jezabel trocou o santo pelo profano. A Bíblia também indica
que ela era prostituta e adúltera, bem como praticante de bruxaria (2 Rs 9.22).
Jezabel tinha características de personalidade que envolviam
manipulação, controle, perversão sexual e idolatria. Algumas conclusões
surpreendentes podem ser tiradas sobre uma mulher que provoca tal ira no
coração do Senhor. Creio que um espírito maligno motivava suas ações e lhe
concedia uma ampla influência. Também creio que a influência desse espírito
permanece até os nossos dias e que jamais foi totalmente erradicado da Igreja.
Pelo contrário, tem recebido um reinado profano. Quando nos aproximamos do
final dos tempos, esse espírito demoníaco parece se entrincheirar mais e mais
nas igrejas.
O nome Jezabel é de origem fenícia e significa
"descasada". Embora ela fosse casada, sua insubmissão e infidelidade
conjugal mostravam que para ela o casamento não significava nada. Embora o
matrimônio seja um símbolo de respeito mútuo e submissão, Jezabel não se
submetia a ninguém. Pelo contrário, exigia que todos se submetessem a ela. Seu
casamento era meramente uma aliança política que lhe permitiu ser não somente
uma rainha, mas, em essência, um rei atuante! Jezabel tinha as respostas para
todos os problemas do rei.
DIVA MORTAL
Jezabel aprendeu a arte do engano com seu pai, Etbaal, cujo
nome significa "semelhante a Baal". Ele chegou ao trono por meio do
complô e do assassinato. Assim, a tendência de Jezabel para o assassinato tinha
raízes genealógicas. Tirar a vida de alguém para alcançar seus objetivos era
algo comum para ela.
Jezabel aparece pela primeira vez durante o reinado de
Acabe, rei de Israel, em 869-850 a.C. (1 Rs 16.31). Acabe não foi o único a
sucumbir diante das perversões de Jezabel. Seus filhos também foram
profundamente influenciados por ela. Acazias, seu filho, cometeu os mesmos
pecados que ele (1 Rs 22.51-53). Outro filho, Jorão, foi morto por Jeú, rei de
Israel, como punição por todas as coisas que seus pais tinham feito aos
profetas de Deus (2 Rs 9.24-26).
A filha de Acabe e Jezabel, Atalia, tornou-se rainha de
Judá. Assim como sua mãe, ela procurou um marido fraco, a fim de poder
continuar com suas práticas malignas (2 Rs 8.25-27). Como resultado, Acazias,
seu filho — que tinha o mesmo nome que seu irmão e que pode ter sido fruto de incesto
-, fez o que era mau aos olhos do Senhor. Mãe e filho, bem como os outros 70
filhos de Acabe e suas famílias, foram mortos pelas mãos de Jeú.
Jezabel não era uma mulher comum. Tinha uma queda para a
dramaticidade. Cada ação sua e cada palavra que dizia demonstravam uma atitude
passional e descontrolada. Sua aparência intimidava, uma rosa com espinhos
afiados como punhais. Era uma figura impossível de ser ignorada, porque
ignorá-la podia significar a morte.
A forma como Jezabel saudou Jeú do alto da janela foi mais
do que um "olá" casual. Ela se maquiou e vestiu a roupa mais sensual
que encontrou. Ela planejou uma manobra de sedução para conquistar Jeú, o
décimo rei de Israel (2 Rs 9.6), convidando-o a fazer aliança com ela - talvez
como seu próximo marido. Se nada disso funcionasse, queria pelo menos
intimida-lo. Jezabel era uma força dominante em Israel. Se Jeú não tivesse
ordenado que fosse atirada pela janela, ela teria usurpado o reino para si. Entretanto,
Jeú cumpriu bravamente a tarefa que recebera do Senhor — erradicar a casa de
Acabe (2 Rs 9.7).
Nesses dias, Deus está chamando os pastores do mundo lodo.
Como eles responderão: Como Jeú ou como Acabe?
PAZ A QUALQUER PREÇO
O espírito de Acabe simboliza a abdicação da autoridade ou,
pelo menos, a autoridade passiva. Ele se apresenta como uma mentalidade que
evita os confrontos e não assume os erros. O espírito de Acabe adora a posição
que ocupa e teme o confronto. Alguém com este espírito prefere promover a paz a
qualquer custo, mesmo que seja forçado a formar alianças profanas.
Um indivíduo sob a influência do espírito de Acabe fará,
muitas vezes, concessões em vez de alianças, dessa forma se prostituindo, em
vez de santificar o relacionamento. Como você pode fazer concessões a alguém
que deseja destruí-lo? O espírito de Acabe sempre está disposto a sacrificar o
futuro a fim de obter a vitória no presente.
Trabalhando em equipe, os espíritos de Acabe e Jezabel
silenciosamente formam um relacionamento de interdependência. Existe uma
necessidade mútua, e um cuida do outro a fim de alcançarem seus objetivos, como
numa simbiose. Um pastor influenciado pelo espírito de Acabe precisará da ajuda
de alguém com o espírito de Jezabel, a fim de manter sua posição e fortalecer
sua base.
Um pastor amigo meu, Russell, queria muito que eu conhecesse
certa mulher de sua igreja. Embora isso não seja incomum (nem errado em si),
ele parecia envolvê-la demasiadamente em cada decisão que tomava. Eu o
acautelei sobre relacionamentos de interdependência, mas era tarde demais. Seis
meses mais tarde, Russell caiu em pecado sexual com aquela mulher.
LÍDERES
APLACADORES
Como muitos líderes de hoje, o reinado de Acabe foi
caracterizado pela tentativa de aplacar Jezabel cedendo às suas exigências. Ele
tolerava todos os decretos e práticas abomináveis de sua esposa.
Muitos pastores se submetem a indivíduos influenciados pelo
espírito de Jezabel porque a pessoa parece ter habilidades de liderança ou
visão espiritual que ajudará a igreja crescer. Muitos até se convencem de que,
com o tempo, ajudarão o indivíduo à "amadurecer" espiritualmente. No
entanto, nesse processo de ajuda, muitos líderes fazem demasiadas concessões e
enfraquecem sua autoridade. Lembre-se de que a atitude aplacadora de Acabe era
exatamente o que fortalecia a base do poder de Jezabel.
Em várias ocasiões, já vi pastores adotarem uma atitude de
indecisão e evitar o confronto simplesmente por medo de que o indivíduo em
questão divida a igreja. Um pastor em particular tinha plena consciência de que
a líder de seu grupo de intercessão operava sob o espírito de Jezabel. Ele
tinha medo de enfrentar a situação porque era uma mulher que intimidava e tinha
muita influência. Se ele perdesse mais membros, não teria como cumprir os
compromissos financeiros da igreja. Infelizmente, muitos líderes se encontram
nessa situação hoje em dia. É preciso muita oração e encorajamento para aqueles
pastores que foram apanhados nessa armadilha mortal.
EVITANDO O CONFRONTO
O pastor precisa ter muita coragem para confrontar a força e
a obstinação do espírito de Jezabel. Por meio de suas ações, um indivíduo
dominado por esse espírito revelará as qualidades e as fraquezas do pastor. O
pastor descobrirá coisas sobre si próprio que preferiria ignorar. Pode reagir
de forma defensiva quando sua autoridade é desafiada. Para evitar uma revolta,
o pastor pode preferir apaziguar ou favorecer o espírito. Temendo situações
semelhantes, o pastor pode suspender todo o ministério profético na igreja. Ou
então, numa atitude egoísta, pode usar a pessoa dominada pelo espírito de
Jezabel para cumprir seus propósitos pessoais. Qualquer uma dessas respostas
causará danos à vida espiritual da igreja. Adotando uma atitude omissa ou passiva,
o pastor deixará sua igreja vulnerável ao domínio desse espírito diabólico. A
igreja rapidamente afundará sob o peso crescente da opressão espiritual,
esmagando toda a vitalidade espiritual saudável e a visão.O espírito de Jezabel
profana tudo o que toca. Tudo o que é santo torna-se impuro. As pessoas começam
a abandonar a igreja, sem nem saberem por quê. Sentem-se simplesmente
compelidas a ir embora, como se pudessem sentir o domínio crescente das trevas.
Os pastores que [diante dessa situação] reagem de forma
impulsiva e precipitada e eliminam os grupos de intercessão e o ministério
profético, silenciarão suas fontes mais confiáveis de discernimento e
revelação. Quando isso acontece, é criado um vácuo espiritual na igreja.
Rapidamente a escuridão e a confusão tomam conta. Como num jogo de xadrez, o
adversário rapidamente ocupa todo espaço que é deixado desocupado. Quando o
verdadeiro ministério profético é silenciado, isso permite que o inimigo
posicione seus próprios profetas em posições-chave.
Os pastores que se omitem e deixam de exercer sua autoridade
causam dano ao povo de Deus, pois sem perceber liberam o poder crescente desses
espíritos demoníacos. Enquanto a questão vai sendo evitada, o problema só vai
piorando. Quando finalmente é confrontado, o espírito de Jezabel já pode ter
criado raízes profundas na igreja e será mais difícil desalojá-lo.
CONSPIRANDO COM AS TREVAS
Se o pastor fingir ignorar os danos causados pelo espírito
de Jezabel, pode se tornar um espírito associado a ele. Conscientemente ou não,
o pastor acaba se alinhando com o espírito maligno. Seus métodos e objetivos
vão se tornando mais e mais parados. Logo o pastor descobrirá que pode alcançar
seus objetivos explorando sua contrapartida espiritual, tornando-se assim um
cúmplice das trevas.
A menos que esse pastor reconheça seu erro e se arrependa,
um dentre dois juízos virá sobre ele: Ele acolherá plenamente o espírito de
Jezabel e se tornará um líder marionete, indeciso (mesmo nas questões mais
corriqueiras), facilmente enganado e sujeito a forte depressão. Ou, então, ele
e sua igreja enfrentarão um terrível deserto espiritual. A presença clara de
Deus será removida do seu grupo. Ficará apenas a lembrança da presença divina;
lamentavelmente, muitas vezes os líderes não encaram essa situação como juízo
de Deus.
TOLERANDO O INIMIGO
Tenho, porém, contra
ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa,
não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição
e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos. — Apocalipse 2.10
Quando um pastor tem uma amiga de confiança que começa a
mostrar vestígios do espírito de Jezabel, é fácil ele justificar a atitude
rebelde da pessoa ou simplesmente fingir que não está vendo. Geralmente os pastores
demonstram certa tolerância para com aqueles que chamam de "amigos".
No entanto, essa confiança e lealdade a um amigo podem criar um tipo de
cegueira. O pastor, portanto, deve deixar a amizade de lado, encarar a situação
do ponto de vista pastoral e tomar as medidas necessárias.
No final, quando o pastor enfrenta a situação e a corrige,
as pessoas sentem-se seguras sob sua liderança e desenvolve maior confiança na
autoridade piedosa. No entanto, se o pastor deixar de tratar da atitude de
rebelião, no final perderá o respeito das pessoas. Os membros da igreja olharão
para ele com desdém, por causa das conseqüências que certamente advirão.
Surgirá a confusão, e o propósito de Deus ficará obscurecido devido à liderança
vacilante.
Pastores que fazem concessões atraem pessoas que gostam de
concessões. A unção pastoral será reduzida a uma gota, comparada com o que
poderia ser. A luz na igreja se tornará penumbra, enquanto o Corpo perde seu
poder espiritual.
FRUTO DA TOLERÂNCIA
Ninguém houve, pois, como Acabe, que se vendeu para fazer o
que era mau perante o Senhor, porque Jezabel, sua mulher, o instigava. — / Reis
21.25
Assim como Acabe
permitia que Jezabel sacrificasse crianças como forma de adoração, o espírito
que está por detrás dos abortos nos Estados Unidos é mantido vivo pelo espírito
de Jezabel. Por meio da promoção pessoal, controle e esquemas de manipulação,
este espírito também procura abortar aqueles que são jovens ou imaturos no
Senhor. Além disso, ele atrai também falsos mestres, atraídos pelo poder
intelectual da alma.
Chegou o momento de uma nova ordem. Um clamor está se
levantando da terra e adquirindo força. Deus está capacitando sua Igreja com
ousadia e zelo, trazidos pelas verdadeiras vozes dos apóstolos e profetas.
Neste momento, Deus deseja que o ministério profético, que é o testemunho de
Jesus, seja vibrante em todas as igrejas. O ministério profético revelará tudo
aquilo que está oculto.
Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Ungi-te rei sobre o povo
do Senhor, sobre Israel. Ferirás a casa de Acabe, teu senhor, para que eu
vingue da mão de Jezabel o sangue de meus servos, os profetas, e o sangue de
todos os servos do Senhor. -2 Reis 9.6,7
Neste ponto da
História, uma grande batalha aguarda os representantes de Deus — os pastores de
sua Igreja. Os líderes estão sendo convocados pelo Senhor para receberem um
espírito de valor e se levantarem como verdadeiros reis. Assim como Jeú recebeu
a tarefa de expurgar o Reino de Deus da influência profanadora e desmoralizante
de Acabe e Jezabel, somos chamados hoje para remover esses mesmos espíritos
apóstatas da Igreja.