sábado, 24 de abril de 2021

Aprenda a viver como um filho do Rei - Capítulo 03

 

COMO PARAR DE BEBER

Havendo alcançado êxito em todas as outras coisas que eu tentara, como suicida fui um fracasso. Provavelmente foi a água que me fez vomitar aquele veneno.

Alguns dias mais tarde, talvez umas poucas semanas, não tenho muita certeza do tempo, porque tudo estava sepultado em uma vermelha neblina de álcool, cheguei à minha casa por volta das quatro horas da madrugada com meu costumeiro relaxador das sextas-feiras — várias doses de uísque. Estando enfarado da vida até ao extremo de desejar morrer, e havendo fracassado em meu primeiro intento de suicídio, decidi pôr termo à vida de uma forma mais lenta, embora menos dramática, bebendo até morrer, tão sem dor quanto fosse possível.

O sofrimento me desagradava, embora o corpo todo me doesse. Nessa sexta-feira santa de 1951, à noite, sofria de tal maneira que clamei: “Deus, socorre-me!”

E ele me socorreu.

Na semana seguinte ele enviou-me a uma reunião dos Alcoólicos Anônimos. Olhei admirado ao meu redor, e disse: “Que faço aqui neste lugar? Certamente não pertenço a este ambiente. Ora, provavelmente ficarei pior se associar-me a esta gente.” Mas, para minha grande surpresa, à medida que a noite avançava, pela primeira vez na vida vi gente com algo que eu desejava; uma paz, algo que se assemelhava a uma verdadeira alegria.

Garantiram-me que se minha necessidade fosse suficientemente grande e que se eu me apercebesse de maneira cabal, Deus poderia ajudar-me. Animaram-me no sentido de que não se tratava de compreender a Deus, mas simplesmente aceitá-lo como ele diz que é.

Disseram-me que ele se revelaria a mim em sua Palavra e que se incumbiria de minha vida quando eu a entregasse a ele. Chegaria a ser, com seu auxílio, o que eu não podia ser por mim mesmo. Ele seria meu administrador, se eu lhe permitisse.

Um administrador era exatamente do que eu precisava.

Nessa noite pedi a Deus que se encarregasse de minha vida em um de seus aspectos: a embriaguez. No começo, tinha dúvidas sobre como poderia fazê-lo.

Parecia-me algo impossível.

Os membros dos A. A. perguntaram-me:

— Pode passar um dia sem beber?

Assegurei-lhes que não. Não havia jeito.

— Pode passar uma hora sem beber?

— Duvido —, foi minha resposta.

Eu era sincero ao dizê-lo, porque sabia que era assim, e uma hora era tempo demais quando o indivíduo está viciado como eu estava.

Porém eles não pareciam desanimar-se nem estavam prontos a dar-se por vencidos.

— E cinco minutos? Pode ficar cinco minutos sem beber?

— Creio que sim.

— Muito bem — disseram. — Este será seu programa.

Somente cinco minutos por vez. Não beba durante cinco minutos.

Quando os tremores e os sintomas causados pela abstenção da bebida começaram a afetar-me por volta das cinco horas da tarde do dia seguinte, procurei adiar os primeiros cinco minutos e cheguei sóbrio à minha casa, resultado instantâneo mediante o programa com Deus dos A. A. Havia experimentado, de primeira mão, o poder de Deus, sem ao menos saber que seu primeiro nome é Jesus. Isto veio mais tarde.

E pela graça de Deus, um dia por vez, durante os últimos vinte e três anos não tenho tido necessidade de tomar um trago sequer.

Deixar de beber foi relativamente simples, mas acima de tudo, minha embriaguez era um pequeno problema, sintoma de um problema muito maior, o problema total do meu eu. Esse permanecia crescendo, porque eu não estava pronto a confiar em que Deus dirigisse meu eu em meu lugar.

Durante os próximos dois anos, o problema do meu eu, meu sóbrio e frio eu, continuou de mal a pior. E nem ao menos podia tomar um traguinho para viajar ao estado de inconsciência, de quando em quando, com o fito de esquecer. Tinha de enfrentar o problema do meu eu, dia após dia em sucessão interminável.

Enquanto isso, eu observava um dos homens que vi freqüentemente nas reuniões dos Alcoólicos Anônimos.

Não podia entender seu comportamento. Classifiquei-o como um camponês, porque era um simples engenheiro que trabalhava na Bethlehem Steel, e eu tinha minha própria empresa. Mas havia um halo em torno dele.

Tinha uma esposa muito volúvel, porém ele nunca se perturbava. Tinha mais filhos que eu, mas se impacientava muito menos que eu.

Eu sabia que o homem tinha problemas, mas parecia que não o angustiavam. Em realidade, depois de dois anos, sua bela serenidade contrastava com minha terrível miséria que estava por deixar-me louco.

E foi assim que, à uma hora da manhã, dois anos depois de havê-lo conhecido, bati à porta da casa de Ed.

Ao abri-la, eu lhe disse:

— Ed, qualquer que seja a coisa que você tem, quero recebê-la.

Finalmente havia chegado a reconhecer dentro de mim que ele tinha essa realidade da qual eu necessitava.